COLESTEROL : QUAL O LIMITE ?

Autor : Dra. Valéria P. Meira

Um dia desses, zapeando pela TV a cabo, deparei-me com um renomado médico que já recebeu títulos honoríficos de mais de dez países, e pasmei ao ouvi-lo dizer que ele próprio toma antihipertensivos, mesmo não sendo hipertenso, e remédios para prevenir a aterosclerose, mesmo jamais tendo infartado ou sequer apresentado taxas de colesterol elevadas.
Não é a toa que muitos de meus pacientes, contaminados por uma espécie de "paranóia profilática" ficam profundamente angustiados quando sua taxa lipídica apenas beira os limites superiores da normalidade. Ficam inseguros quando lhes digo que não será necessário medicá-los e me contento e recomendar-lhes exercícios físicos moderados e regulares e uma dieta rica em fibras.
Dos leigos, é de se esperar que confiem nos especialistas... mas o que dizer de médicos que, incansavelmente batalham para manter seus pacientes com taxas de colesterol abaixo de 160mg%? Ora, o recomendável atualmente é que o colesterol total esteja em níveis até 200mg%. Preventivamente, começou-se a buscar a marca de 180 e agora já se fala em 160 ou 150! Será que os cardiologistas que assim orientam esquecem-se de que há outros órgãos no corpo humano, além do coração? Por exemplo, há os nervos periféricos, cujas fibras são recobertas de colesterol, e que a redução acentuada dos lipídios pode causar sérias neuropatias, cursando com fraqueza muscular. Vários ensaios têm associado o uso de estatinas para o tratamento do colesterol "elevado", com o aumento na incidência de depressão, fibromialgia e até com a redução da libido (interesse sexual)! O mais intrigante é que tantos insistam em relacionar os ataques cardíacos apenas com as taxas de LDL-colesterol elevadas, quando diversos estudos já comprovaram que o fator determinante para o risco cardíaco é o HDL-colesterol baixo por falta de atividade física e reduzida ingesta de fibras alimentares.
Fala-se muito do poder da mídia e mais ainda, das multinacionais farmacêuticas e suas interferências na prática médica. Mas nada temos a temer quanto a isto, a menos que permaneçamos ignorantes acerca dos mais básicos e elementares princípios de saúde. Infelizmente, muitas potências financeiras custeiam pesquisas médicas e promovem profissionais de saúde, mas com objetivos espúrios. Então a nossa salvaguarda está na prevenção. Se tivermos bons hábitos e uma vida equilibrada, ainda que venhamos a adoecer, a nossa recuperação será muito mais pronta e certa.
Num congresso médico do qual participei há dois anos, tive o desprazer de escutar a recomendação de que todo indivíduo acima de quarenta anos deve, impreterivelmente, usar, para prevenir a aterosclerose, o diabetes, a osteoporose... e outros males da senescência: Metformina, Rosivastatina, cálcio de vitamina D, compostos de fibras, bisfosfonatos, AAS, reposição hormonal para a menopausa e polivitamínicos enriquecidos com oligoelementos, além de antidepressivos. Isso tudo, profilaticamente e continuamente! Ou seja: é proibido envelhecer?
Curiosamente, deste corolário não constavam orientações alimentares, ou de atividade física, ou de exposição solar, ou de lazer... ou mesmo sobre relacionamentos afetivos, postura, sono, higiene, humor, hidratação... Bem, poderíamos pensar que as orientações higieno-dietéticas sejam por demais óbvias para figurar entre tratamentos de cunho tão científico. Mas posso lhes asseverar que, mesmo aos pacientes mais carentes do SUS é mais provável faltar cereal á mesa, do que Sinvastatina após a janta.